segunda-feira, 3 de maio de 2010

A PRIMEIRA VEZ - PARTE II


Foto: http://img87.imageshack.us/img87/5456/sensualidadethierrylegoqp7.jpg

Para minha grande alegria, um dia uma terceira opção se apresentou como caída do céu.

Estávamos eu e minha avó na cozinha, uma grande peça da casa colonial com peitoril na parede lateral para o pátio interno, quando ela fez um comentário trivial sobre a empregada. Suspeitava que Maria estivesse grávida. Parei abrupto o serviço de limpeza que fazia no piso. Para mim, aquilo foi ao mesmo tempo um choque e uma revelação. Pensava ingenuamente que ela ainda fosse virgem. Se não era, eu tinha alguma chance.

Daí em diante vi Maria com outros olhos. Não era uma mulher formosa, bem sabia, mas para quebra-galho estava danada de boa. Além disso, ela podia ratificar a reputação de serem as empregadas boas iniciadoras dos meninos das famílias para as quais trabalhavam. O momento azado surgiu quando toda a família viajou para a minha cidade, 100 km distantes, na tarde de uma sexta-feira. Eu fiz corpo mole e minha avó alegremente interpretou meu desejo de ficar como dedicação ao trabalho, pois tomaria conta do comércio naquele final de semana. Despediu-se de mim com um sorriso e um abraço de satisfação, recomendando a minha alimentação para Maria. Até aí nada havia acontecido, tampouco Maria suspeitava das minhas intenções.

Indeciso sobre como abordá-la, ardi de desejos a noite inteira com a luz do quarto acesa, rolando nu na cama entre suspiros e punhetas. Duas vezes durante a noite ouvi os passos dela na sala. Mas era por ali o caminho para o banheiro. Não acreditei que ela estivesse rondando insone o meu quarto, acalentando os mesmos desejos que eu. A alvorada surpreendeu-me cansado, os olhos e o pinto ardendo. Um banho frio restituiu-me a disposição. Ainda durante o café na cozinha, ela girando em volta da mesa mais que o habitual, os seus olhares zombeteiros desconfortaram-me. Havia malícia e luxúria naqueles olhos negros. A grande boca de lábios grossos, desproporcional no rosto miúdo e escuro, mal disfarçava o sorriso de mofa.

Não me contive.

— O que foi? — disse encarando-a.
Ela demorou a responder, pois antes dobrou um braço e levou um dedo à boca com sensualidade, enquanto apoiava a outra mão no cotovelo. Arremedava uma menina sapeca que nega alguma coisa preciosa a quem lhe suplica. Diante de seu silêncio, voltei a concentrar-me no café.

Ela descolou os lábios e disse por fim num sussurro provocante:
— Faltou coragem, menino?
Virei rápido como picado por uma víbora, o coração aos saltos no peito.
— Coragem pra quê?

Ela não desfazia o sorriso zombeteiro.
— Sei lá — evadiu-se. — É que vi a luz acesa e ouvi barulho a noite toda em seu quarto.
—Vem cá, você estava me vigiando, hein? Diga pra mim.

Maria continuou sorrindo, pegou uns panos de prato úmidos e foi estendê-los no varal do quintal. De lá, virando a cabeça sobre o ombro, olhava-me insistentemente.
Passei perto dela no pátio para abrir o comércio, entrando pelos fundos da loja. Estava bem perto da porta de entrada, uns panos no ombro, outros na mão, estendendo-os. A lenta operação era proposital, para forçar a proximidade entre nós. Quem sabe com o intuito de que eu a agarrasse.


Nem Dom Juan nem Casanova
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Todos os nomes próprios são fictícios

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